sábado, 7 de agosto de 2010

Turismo 5000, Getulio, o tanque e o vidro de traz do Maverick

Caros leitores, este titulo pode parecer estranho, mas no decorrer desta narrativa vocês vão entender.
Tudo aconteceu em um domingo de 1985, ano em que a categoria Turismo 5000 estava no auge, para quem não sabe esta categoria permitia que o piloto competisse com veículos com motor V8 e 5000 cc, portanto Maverick, Dodje e Galaxie, na época esses carros não valiam nada, eram gastões e a gasolina era cara, era comum comprar um Dodje por algo como R$ 500,00 reais dos dias de hoje. Portanto era uma categoria barata, apesar de atrair gente competitiva que investia nesta categoria por ser uma categoria rápida afinal era um V8. Corria-se no anel externo era algo inspirado na Nascar americana, com todos esses ingredientes juntos tínhamos uma corrida bastante interessante, gente andando rápido e gente correndo com verdadeiras “bicheiras” mas com um V oitão. Isso produzia situações espetaculares, em poucas voltas os veículos mais rápidos já alcançavam os retardatários, e isso aumentava ainda mais a competitividade e a disputa. Eu participava com a equipe do Roberto Dies, o Robertinho, tinha grande apoio no bairro (Vila Gerty – São Caetano do Sul), era o Schumacher do pedaço, tinha um Maverick que era muito ruim, eu me lembro do dia em que para que pudesse participar da corrida, meu pai, que tinha um Galaxie 1976, emprestou o radiador e os rolamentos do carro que ficou sobre cavaletes, alias , era um perigo você ir ao autódromo assistir a uma corrida de T5000 com um carro da mesma marca dos que corriam, invariavelmente o seu carro seria canibalizado por algum competidor seu amigo que iria te pedir peças emprestadas, eu lembro que fomos com o Valdir Castanha um amigo meu que tinha um Maverick (coitado do velho Castanha), o Dies teve muitos problemas durante os treinos e foi tirando peças do carro do Castanha, afinal amigo é para essas coisas, ele tirou a bobina, manga de eixo (Dies deu uma trepada errada na Zebra na saída da curva 2), Carburador, coletor de admissão, rolamento dianteiro, pinça de freio, burrinho de freio (dá para perceber que o carro não estava parando), deixou o Maveco do Castanha no Cavalete, eles demoraram uns 15 dias para recuperar o carro e tira-lo do autódromo, naquele dia voltamos de carona dentro do T5000, pois a Kombi que rebocava o carro até o autódromo fundiu o motor. Meus queridos leitores, este dia foi muito difícil,  mas como diz o ditado "Não existem sacrificios para quem ama o esporte".
Mas na verdade não estamos aqui para falar do Dies, que com toda certeza merecerá um capitulo à parte neste blog, vamos falar da coisa mais bizarra que eu vi, que foi o acidente do Getulio, esse cara tinha um Maverick preto pintado mais ou menos como se fosse uma Lótus 72D do Emerson Fittipaldi (lembram-se John Player Special), o carro de longe até que era “bonitinho”, lógico como todo o carro de corrida era bonito de longe, de perto era outra coisa, mas prosseguindo, o Getulio também era de São Caetano do Sul e morava no Jardim São Caetano, não existia nenhum tipo de rivalidade entre o Getulio e o Dies.
Muito bem, começa a corrida, a largada era lançada como na Nascar, e o Getulio vinha do meio do pelotão para traz, algo como 17º. colocado em aproximadamente 25 competidores, e evidentemente acreditando muito no seu talento e mesmo sabendo que não tinha carro queria impressionar e ir para cima, no autódromo antigo tinha o Retão com quase 1 Km de distancia, e ali dava para embalar bem, sentar o Pé no Porão, e os mais hábeis se aproveitavam do vácuo do que ia à frente, no nosso caso, nosso amigo Getulio em vez de grudar no vácuo , ele gostava de “dar ibope no retrovisor” do carro que ia na frente, isso significa ficar mudando de lado ou tentando a ultrapassagem alternando por dentro e por fora, e foi ai que aconteceu todo o drama, ele vinha no retão atrás de um cara que eu não me lembro, fazendo o seu jogo, numa dessas mudanças de direção ele pegou uma zebra que tinha na entrada da Curva 3, ali um T5000 como o dele estava fácil a uns 240 Km/h, não deu outra, o pneu dianteiro pegou na zebra e levantou a frente do Maverick que decolou e saiu capotando e desmanchando literalmente, com o Getulio Dentro, em determinado momento, e aqui eu solicito que não me peçam para explicar, o Getulio arrancou o cinto de segurança de 4 pontos no peito, e saiu o Getulio e o tanque de combustível de 100 litros PELO VIDRO DE TRAZ DO MAVERICK QUE É MINUSCULO ainda com o Maveco capotando, vale lembrar que o Getulio na época era um cidadão com pelo menos uns 85 Kg. Bom estava feito o desastre, o carro saiu capotando e teve o santo Antonio quebrado ficando com no Maximo uns 50 cm de altura (graças ao bom Deus que o Getulio saiu pelo vidro de traz), e o Getulio caiu na grama, ele o tanque e o banco (o banco saiu também junto com eles ) , muito bem, emergência no autódromo, chamaram a ambulância para buscar o Getulio, alias quero abrir um parêntese aqui, naquela época não tinha formula 1 em São Paulo, portanto o autódromo não tinha a mina infra-estrutura, tanto que não se podia tomar o traçado correto da curva 3 porque tinha um buraco ali, voltando na emergência, a Ambulância saiu dos boxes com destino a curva 3 para buscar o cara, a Ambulância era uma VMV (Veraneio muito velha) mas bota velha e mal tratada nisso, e lá se foi a ambulância com o Pé no Porão descendo o retão a uns 60 Km/h, uma velocidade astronômica para ela, bom depois de uns minutos a ambulância chegou, colocaram o Getulio lá dentro do jeito que deu, tudo bem, o motorista engrenou primeira para sair com a ambulância e ouviu-se um barulho “climmmm” quebrou a cruzeta da ambulância, e agora, tudo bem , chamem a ambulância de back-up, que era do mesmo tipo porem vocês podem imaginar o estado de conservação já que eles mandavam primeiro a outra (a da cruzeta) antes , passou uns 10 minutos e a ambulância chegou, trocaram o Getulio de ambulância, tudo bem, o motorista colocou primeira andou uns 100m e acabou a gasolina da ambulância, meu nessa hora eu pensei, “meu... , aqui ta phoda hoje”.  A solução foi parar um carro de corrida e eu me lembro que foi o Roberto Karecão quem parou para pegar o Getulio, colocaram ele dentro do carro de corrida com aqueles canos do Santo Antonio para tudo quanto é lado e levaram o Getulio para os Boxes, lá o pessoal que estava com ele providenciou o deslocamento dele para um Hospital, apesar que depois de tudo isso dava para ver que o cara estava bem, senão tinha morrida. Eu lembro que ele ficou uns 15 dias com as marcas roxas do cinto no peito, ele exibia essa marca com orgulho como se fosse um troféu.
Pois é pessoal, antes era assim, hoje para entrar um carro no autódromo tem que ter UTI móvel de plantão e estrutura de primeiro atendimento no autódromo, hoje os pilotos estão mais protegidos, mas com certeza tem muito menos historias para contar.

Não percam a proxima matéria “Airton Senna – O dia em que a terra parou”




José Carlos Fernandes Junior

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